Escobar é melhor que Narcos

Escobar é melhor que Narcos

Narcos

TV-MA 49 min SÉRIES

9.0
IMDb 9.0/10 97,951 votos

28 Aug 2015

Nomenado por 2 Golden Globes. Além de 2 nomeações.

Sinopse


A eloquência exagerada do Wagner Moura compromete a verossimilhança. E eu poderia dar uma de lacônico e resumir esse artigo nessa única frase, mas há entre a frase e o “destrinchamento” mais coisas do que pode julgar o meu pretenso laconismo. Em primeiro lugar, é que existe uma discussão meio idiota em torno da fluência do espanhol do Wagner Moura.

Sinceramente, isso pra mim pouco compromete – até porque não tenho muito conhecimento em dicções castelhanas para afirmar se o espanhol do cara é ou não é condizente com o sotaque colombiano. Aliás, fico imaginando se as pessoas que tanto criticaram esse aspecto da atuação dele (e, claro, produziram memes a respeito) se elas têm mesmo esse grau de sofisticação na análise sotaques espanhóis. Me soa meio como o Marcos Mion fazendo piada do Romero Britto: será que o nível de exigência artística do Marcos Mion não tolera nada menos que um Rembrandt? Sabrina Sato é pós-doutora em análise do discurso? O Faustão não deixa os filhos assistirem TV?

Não me convence. Mais uma vez, o brasileiro quando quer dar uma de metidão não me convence.

E é mais ou menos assim que, depois de assistir o segundo episódio desse “Narcos” colombiano (procurem no Netflix por “Escobar – el patrón del mal”) me senti ao cotejar as atuações do Wagner Moura com a do Pablo Escobar hermano – interpretado por Andrés Parra.

Não que o Parra seja um ator digno de Oscar. Não que a versão dos nossos vizinhos tenha um jogo de ação à la Mad Max. Nada disso. Não precisei nem chegar aos últimos episódios da série pra chegar a essa conclusão. É que “el patrón del mal” é uma história que economiza nas firulas e, por consequência disto, ganha o drama mais verossímil, mais sinistro, mais honesto. Todo esse conjunto de fatores deixou a turma de Narcos e Wagner Moura me parecendo caricaturas de bandidos, um bando de babaca tentando parecer viril para impressionar o desavisado.

– E que porra de sombreiro é aquele?

Essa atitude bad boy pode funcionar muito bem nos EUA com o Eminem malhando enquanto faz cara de menino mau, mas nas quebradas do Capão (ou no Rionegro de Escobar) é simplesmente digna de riso. A verossimilhança na interpretação de Andrés Parra, se comparada à do Wagner Moura, é de uma superioridade monstruosa. Parra assume o papel no segundo episódio e, em determinado ponto, mostra-se tão confortável na pele de Pablo Escobar que dá impressão que você está assistindo uma biografia interpretada por sósias. Parece nunca haver espaço pra mentiras, firulas ou hipérboles naquela interpretação. Sem dúvida, Parra e seus colegas de elenco foram dirigidos por um mestre que não cede ao exagero.

Outro dia tava me perguntando por que diabos um cara como o argentino Ricardo Darín (“O segredo de seus olhos”) teria recusado fazer um filme em Hollywood. Vi uma entrevista com ele, tentava explicar ao repórter o “inexplicável”, e não entendi bulhufas.

Eu tinha que dar um desconto ao Darín, que é mestre na atuação – e não nas palavras. Eu tinha que dar um desconto a mim mesmo, às minhas limitações enquanto intérprete da fala de um ator local.

A resposta às minhas dúvidas sobre o Darín ter se recusado a esfregar a lâmpada mágica talvez estejam todas em Escobar, uma série interpretada totalmente por hermanos. A resposta de Darín talvez esteja em como, por deus do céu, estragamos o melhor da nossa dramaturgia ao desprezar nossa capacidade de ganhar dinheiro fazendo os nossos filmes e pagamos os bilhetes aos produtores americanos – competentíssimos, por supuesto – mas que são americanos, não são nosotros, não sabem nos representar nem contar nossas histórias como nós sabemos.

Crédito: Diego Diniz e Osmar Prudente

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